segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Para que serve a amizade?

Para rachar a gasolina, emprestar a prancha,
recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola,
caminhar no shopping, segurar a barra.

Todas as alternativas estão corretas,
porem isso não basta para guardar um amigo no lado esquerdo do peito.
Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu ultimo livro,
"A Identidade", que a amizade é indispensável para
o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu.

Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles
são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar.
Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade,
aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança,
não valorizam ainda o que esta sendo construído.
São amizades não testadas pelo tempo,
não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades
ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos:

Um amigo não racha apenas a gasolina:

Racha lembranças, crises de choro, experiências.
Racha a culpa, racha segredos.

Um amigo não empresta apenas a prancha:

Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo,
empresta o calor e a jaqueta.

Um amigo não recomenda apenas um disco:

Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um pais.

Um amigo não dá carona apenas pra festa:

Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.

Um amigo não passa apenas cola:

Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.

Um amigo não caminha apenas no shopping:

Anda em silencio na dor, entra contigo em campo,
sai do fracasso ao teu lado.

Um amigo não segura a barra, apenas:

Segura a mão, a ausência, segura uma confissão,
segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.


Duas dúzias de amigos assim ninguém tem.

Se tiver um,
amém!

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